Console Wars: o que é e o que representa para a indústria de jogos?

Console Wars: o que é e o que representa para a indústria de jogos?

Ontem (11) noticiamos sobre uma declaração enfática do ator Elias Toufexis, que emprestou sua voz ao personagem Sam Coe, do mais recente game da Bethesda, Starfield

Toufexis, assim como outros envolvidos no game, estão enfrentando a habitual divisão que há no mercado de games. Uma rivalidade que ja é um elemento cultural da própria indústria: a zoação ou comentários mais ríspidos sobre alguma plataforma, ou, nesse caso específico, críticas ao game Starfield.

O ator postou em sua conta no X (ex-twitter), o seguinte: Os fanboys do console wars são simplesmente os melhores. Espere, não é melhor, a outra palavra… uh… hilariantemente patético”.

Toufexis ficou muito incomodado com a forma como que algumas pessoas criticaram projeto em que ele está envolvido. Ele chegou até mesmo a citar um caso de uma pessoa que ficava a todo momento escrevendo 30 fps em suas postagens. Claramente uma zoeira em relação à taxa de frames do game no Xbox Series S e X.

No tweet de Toufexis, podemos ver que ele definiu como patéticos aqueles fanboys que fomentam o console wars, ou guerra de consoles E é justamente esse jargão, console wars, que iremos tentar entender melhor sua origem e implicações na indústria de games.

Bom, pra começar quero deixar claro aqui que compartilho da opinião de Toufexis em relação ao fanboys. Não apenas os dos games, como de qualquer outro tema. O controverso crítico musical Regis Tadeu tem uma frase que muitos não entendem o real significado, mas que eu tentarei colocar aqui o ponto em que considero a que ele se refere. Ele afirma que todo fã é um idiota.

Pronto, estão abertas as comportas do ressentimento e de uma possível raiva que alguns podem ter ao ler algo assim. O ponto é que isso precisa ficar mais claro. Admirar algo, comprar e gostar muito de alguma coisa, ou até mesmo debater e falar sobre aquilo, na minha visão, não lhe faz um fã, ou um fanboy.

Fã, no contexto em que o Regis se refere, e o qual eu também acredito, acontece quando determinada pessoa se dói de verdade, leva quase para o lado pessoal, quando o artista que ela curte, ou até mesmo o jogo, ou console que ela tem, é criticado. Não há espaço ao contraditório, não há diálogo, há uma adoração cega e patética realmente. É a entrada ao hall dos fanáticos.

O fã não consegue fazer uma análise sobre o que é admirado. Não há uma reflexão se aquilo está num nível aceitável ou abaixo da crítica. Tudo é aceito, e a contestação acontece apenas com aquilo que ela escolheu como alvo pra “bater”, nunca o seu próprio elemento de adoração.

Na indústria de games esse tipo de situação é corriqueira. A defesa com unhas e dentes por plataformas e jogos, que acaba, evidentemente, afetando aqueles que estão inseridos nesse mercado, ainda mais de uns anos prá cá, com a ascensão das redes sociais.

Mas também não posso ser hipócrita aqui. Acredito de verdade que a maioria dos artistas adoram a legião de baba-ovos que defendem tudo o que eles fazem, e, inclusive, os utiliza como subterfúgio para mascarar algo mal-feito, ou atitudes contestáveis. Vide a parcela gigantes de influenciadores digitais que utilizam desse recurso.

No campo dos games o sentimento parece quase o mesmo. O console wars é um fomentador de mercado. Quer você goste ou não. É uma forma banal, vil, e idiota? Completamente. Mas aquece, sim, o mercado, e pode potencializar o hype para um novo lançamento.

Também acredito que a defesa exacerbada, ou a crítica com um contexto pessoal, tem uma relação com uma espécie de valorização que muitos querem fazer sobre aquilo que compraram. Uma das alternativas que uma grande parcela de pessoas utiliza pra não se sentir idiota sobre aquilo que comprou é adotar uma defesa quase que animalesca.

Diversos casos na história mostram que as próprias empresas já fizeram com ainda mais ênfase o uso do revanchismo para alavancar o seu produto, aplicar uma relação de contraste com o que já estava no mercado.

É complicado definir exatamente qual seria a origem do console wars, a primeira vez em que essa expressão foi cunhada. O que dá pra dizer é que a imprensa americana especializada em games, principalmente entre os idos dos anos 80 e 90, foram responsáveis por impulsionar esse tipo de destaque “mancheteiro” com o uso da palavra war (guerra).

O console wars não se refere apenas ao fato de uma briga entre os consumidores para a defesa de uma determinada plataforma ou game. Podemos dizer que esse contexto é uma coisa mais nova. A fase embrionária do console wars esta mais ligada com a rivalidade interessantíssima que o mercado de games viveu entre o fim dos anos 80 e início dos 90.

Essa era é tema de diversas discussões, documentários, artigos e livros. Um livro super interessante nessa temática é o: “Console Wars: Sega, Nintendo, and the Battle That Defined a Generation”, ou “A guerra dos consoles: Sega, Nintendo e a batalha que definiu uma geração”, em sua versâo em portugês.

Caso você ainda não tenha lido, recomendo muito que o faça. É uma viagem espetacular para uma época rica em termos de estratégica de mercado e de marketing, uma batalha campal entre Nintendo e Sega. O livro deu origem também a um documentário na HBO Max, mas que ficou bem abaixo da riqueza de detalhes do livro.

Há um tempo, escrevi um artigo que também remonta essa era, a dura batalha da Nintendo contra as locadoras em meados dos anos 80 e 90, história que também engloba a briga por cada centímetro de espaço em meio ao “console wars”, e o embate com a SEGA.

Tentei dar uma procurada em revistas antigas de games pra ver se encontrava a primeira citação sobre console wars, mas não encontrei. No entanto, na edição de agosto de 1988 da revista Computer Gaming World, o jornalista traça um paralelo sobre os pontos-chave sobre a indústria dos cartuchos de videogames e se refere a briga das empresas desse setor como “Cartridge Wars”, “guerra de cartuchos”.

Era, e em certa medida ainda é, muito comum essa atribuição da palavra guerra a rivalidade e concorrência entre as empresas. As campanhas de marketing também eram mais contundentes, como a clássica “Genesis Does What Nintendon’t, em tradução, “O Genesis faz o que a Nintendo não faz”.

A frase em questão enfatizava o fato que Genesis, nome para o Mega Drive que a SEGA adotou no mercado norte-americano, tinha certos jogos que a Nintendo não podia oferecer. Era a SEGA batendo na tecla do fator exclusividade. Essa campanha é genial, um dos grandes momentos do mercado publicitário de games.

Microsoft e Sony se encarregaram de manter viva essa guerra na indústria de games nos últimos anos, ainda mais considerando a briga entre os usuários do PlayStation e do Xbox nas redes sociais. 

Dependendo da dose, o console wars é algo interessante para a indústria. É um propulsor da competição e do hype. No entanto, há uma linha bem tênue entre a rivalidade e a imbecilidade – o fanboy está sempre desse lado.

Qual a sua opinião sobre os fanboys, e o console war? Você acha que a própria indústria incentiva esse tipo de postura por parte dos consumidores? Deixe seu comentário abaixo.

Sobre o Autor

Editor-chefe no Hardware.com.br, aficionado por tecnologias que realmente funcionam. Segue lá no Insta: @plazawilliam Elogios, críticas e sugestões de pauta: william@hardware.com.br
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