Nos bastidores da revolução tecnológica e dos avanços em inteligência artificial (IA), uma guerra estratégica por poder econômico e político se desenrola silenciosamente. Como afirmou o ex-CEO da Intel, Pat Gelsinger, os chips têm potencial de moldar a geopolítica de maneira mais profunda do que o petróleo nas próximas décadas. Nesse cenário, as grandes potências mundiais travam uma disputa acirrada, com foco no mercado de semicondutores e IA.
China x Estados Unidos
Em meio a um diagnóstico tão impactante, e que a cada dia se mostra mais factível, as grandes potências do mundo brigam por cada centímetro de espaço em mercados cada vez mais aquecidos, como o de inteligência artificial, que depende da evolução dos chips.
Nesse ringue duas nações se destacam pela escalada na forma como estão levando esse embate. China x Estados Unidos.
Estratégias dos EUA: Sanções e Controle Global
O governo americano intensificou sua pressão para limitar o avanço tecnológico da China. Isso inclui sanções que impactam diretamente empresas chinesas e restringem o acesso a equipamentos críticos para a fabricação de semicondutores.
Além disso, os EUA têm influenciado parceiros estratégicos, como a sul-coreana Samsung, a taiwanesa TSMC e a holandesa ASML, para alinhar suas políticas e colaborar na contenção do progresso chinês. Um exemplo prático e recente dessa estratégia é a placa RTX 5090D, da NVIDIA, que foi “capada” em desempenho para IA e mineração de criptomoedas, atendendo às exigências americanas.
A Resposta da China: Investimentos Internos e Novas Rotas
Apesar da pressão, a China investe pesado em seu mercado interno, com foco no desenvolvimento de sua própria indústria de semicondutores. O governo anunciou recentemente um fundo de US$ 8,2 bilhões para impulsionar a pesquisa e o desenvolvimento de inteligência artificial.
A China também deu início a uma investigação antitruste contra a NVIDIA, buscando desafiar o domínio americano no fornecimento de hardware para IA. Paralelamente, Xi Jinping restringiu a exportação de minerais críticos, como gálio, germânio e antimônio, essenciais para a indústria de chips.
O Cenário Atual: obstáculos e avanços da China
Embora a China esteja determinada a reduzir sua dependência de tecnologias ocidentais, ela enfrenta desafios significativos:
A desvantagem em capacidade tecnológica
Mas não pense que será fácil para a China avançar nessa corrida contra os tentáculos dos EUA. Atualmente, a maior fabricante de chips chinês é a SMIC (Semiconductor Manufacturing International Corp). Em termos globais, ela representa cerca de 5% do mercado de semicondutores, bem distante dos 17% de Intel e Samsung, e ainda mais longe dos 54% da líder TSMC.
A alocação de investimentos cada vez mais vultuosos é uma corrida contra o tempo para tentar encurtar um gap que passa não apenas por quota de mercado, mas também por capacidade tecnológica.
Um dos grandes problemas que a China enfrenta é não poder acessar os equipamentos litográficos mais avançados produzidos pela ASML, devido às sanções. Esse panorama faz com que o país se encontre hoje, na visão de algumas personalidades da indústria, como Chistophe Fouquet, CEO da ASML, cerca de 10 a 15 anos atrasado em relação à produção do ocidente.
A principal fabricante chinesa, a SMIC (Semiconductor Manufacturing International Corp), detém apenas 5% do mercado global de semicondutores, muito atrás da TSMC, que lidera com 54%. Além disso, as restrições ao acesso a equipamentos avançados da ASML mantêm o país cerca de 10 a 15 anos atrasado em relação ao ocidente, segundo Christophe Fouquet, CEO da ASML.
Exportações paralelas: aposta em rotas alternativas
Para contornar as sanções, a China utiliza rotas estratégicas de exportação, com países como Singapura, Malásia e Índia desempenhando papéis cruciais no fornecimento de tecnologias restritas. Porém, os EUA monitoram essas atividades e já preparam novas sanções contra essas rotas paralelas.
Foco em tecnologias mais simples
Diante das limitações, a China tem concentrado seus esforços em tecnologias mais maduras, como litografias de 28nm, que possuem menor custo de produção e são amplamente aplicáveis em dispositivos eletrônicos, automóveis e eletrodomésticos. A SMIC já fabrica chips de 7nm e, possivelmente, de 5nm, mas os altos custos associados a essa produção, devido às limitações de acesso a determinados equipamentos ainda são um desafio.
Cenários Futuros: Estratégias da China e dos EUA
A China explora diversas estratégias para manter-se competitiva:
- Aceleração da Produção Interna: Além da SMIC, empresas locais como Honghu Suzhou Semiconductor Technology e Naura Technology Group estão ganhando relevância no ecossistema chinês de semicondutores.
- Possível Conflito com Taiwan: Um cenário extremo envolve a anexação de Taiwan, lar da TSMC, que poderia transformar o equilíbrio de forças no mercado de semicondutores, mas também desencadearia tensões globais sem precedentes.
Em paralelo, os EUA seguirão mapeando qualquer passo que a China possa dar e atacar nesses pontos.
Segundo a Bloomberg, o governo americano já planeja aprovar uma regulamentação mais rigorosa para bloquear o envio de circuitos integrados de última geração, produzidos pela TSMC, Intel, Samsung e GlobalFoundries, para a China. Em termos gerais as novas sanções determinarão que chips de 14nm e 16nm com mais de 30 bilhões de transistores não poderão ser enviados para o país.
Os EUA também está investindo em suas empresas, através da lei dos CHIPS. A Intel, por exemplo, já acumula mais de US$ 10 bilhões em subsídios federais para alavancar sua produção.
O futuro reserva emoção nessa disputa pelo ‘novo petróleo1 da era digital
Apesar das sanções e desafios tecnológicos, a China conseguiu produzir 12,5% mais chips em 2024 do que em 2023, um feito notável diante do cenário das sanções.
Definitivamente, não faltará fatos relevantes e de tensão nos próximos anos pelo domínio do “novo petróleo”.